Cerimônias de ayahuasca no Brasil e no Peru: Duas tradições sagradas
No Retiro Maravilha, em Búzios, Brasil, frequentemente encontramos hóspedes curiosos sobre as diferenças entre as tradições da ayahuasca no Brasil e no Peru. Ambos os países carregam uma profunda sabedoria e ambos oferecem experiências transformadoras. Como nossa casa fica no Brasil, vemos em primeira mão como as cerimônias aqui são únicas - enraizadas nas tradições indígenas da floresta e enriquecidas por caminhos espirituais sincréticos como o Santo Daime e a União do Vegetal. Para ajudá-lo a entender a beleza de cada linhagem, escrevemos esta comparação entre o Brasil e o Peru, começando com as tradições mais próximas de nossos corações.
Ayahuasca no Brasil: Tradições da floresta e igrejas sincréticas
Raízes indígenas
No Brasil, tribos como Huni Kuin (Kaxinawá), Yawanawá, Puyanawa, Katukina e Ashaninka mantêm antigas tradições de ayahuasca. Para eles, a bebida, muitas vezes chamada de "nixi pae", é uma forma de se conectar com a floresta, com os espíritos dos animais e com seus ancestrais.
As cerimônias são altamente comunitárias. Em vez de se concentrarem apenas na jornada interior de um indivíduo, os participantes geralmente cantam, entoam cânticos e, às vezes, dançam juntos. O som dos maracás (chocalhos) e dos tambores preenche a noite, criando uma atmosfera de cura e celebração coletiva.
Santo Daime, UDV e Barquinha
Uma característica única do Brasil é o surgimento de religiões sincréticas que misturam a ayahuasca com o cristianismo e as tradições espirituais africanas.
- O Santo Daime combina hinos, orações cristãs e danças em formações estelares.
- A União do Vegetal (UDV) oferece ensinamentos morais e espirituais estruturados em um ambiente semelhante ao de uma igreja.
- A Barquinha mistura a ayahuasca com o Espiritismo e a mediunidade.
Esses grupos são legalmente reconhecidos no Brasil, tornando a ayahuasca não apenas um medicamento indígena, mas também um sacramento reconhecido da vida religiosa.
Atmosfera da cerimônia brasileira
- Comunal e comemorativo - muitas vozes cantando juntas.
- Um forte senso de conexão com a natureza e a comunidade.
- A estrutura jurídica apoia a abertura e a integração.
Ayahuasca no Peru: Shipibo e a tradição Icaro
Raízes indígenas
Do outro lado da fronteira, no Peru, as cerimônias são mais amplamente associadas ao povo Shipibo-Conibo, bem como aos curandeiros Asháninka, Quechua e Mestizo. A abordagem peruana costuma ser mais individualizada, com o curandeiro concentrando-se em cada participante.
O papel de Icaros
No centro das cerimônias peruanas estão os ícaros - canções sagradas que o curandeiro canta para orientar as visões e direcionar a energia do medicamento. Cada ícaro é considerado um espírito vivo em si, recebido por meio de anos de dieta (dieta de plantas) e treinamento.
As cerimônias geralmente são realizadas em uma maloka (cabana cerimonial circular) à noite. Os curandeiros podem usar tabaco mapacho, perfumes, chocalhos e, às vezes, outras plantas junto com a ayahuasca.
Atmosfera da Cerimônia Peruana
- Profundamente introspectivo, muitas vezes em silêncio entre as músicas.
- Liderado por xamãs - cada participante pode receber cura personalizada por meio de canções.
- Grande foco na purgação (vômito, suor) como uma limpeza física e espiritual.
Principais diferenças entre o Brasil e o Peru
As cerimônias brasileiras são comunitárias, muitas vezes repletas de cantos e danças. A música pode incluir hinos coletivos, maracás e cantos cristãos e indígenas. A atmosfera é de celebração e enfatiza a conexão com a comunidade e a natureza, com influências do animismo indígena e do cristianismo. O uso da ayahuasca é totalmente legal para a prática religiosa no Brasil.
As cerimônias peruanas são geralmente mais introspectivas e individualizadas. A música vem por meio de icaros cantados pelo xamã, geralmente direcionados a participantes específicos. A atmosfera é tranquila, visionária e profundamente pessoal, enraizada na cosmologia animista e dos espíritos vegetais. O uso da ayahuasca é tolerado no Peru, embora não seja formalmente legalizado em nível nacional.
Por que o Brasil e o Peru são importantes
Ambas as tradições carregam a sabedoria sagrada da floresta, mas suas diferenças podem moldar sua experiência. No Brasil, você pode se sentir amparado pela comunidade, pelas vozes que se elevam juntas sob as estrelas ou pelos ensinamentos estruturados de uma igreja do Santo Daime. No Peru, você pode sentir a orientação íntima do icaro de um curandeiro, levando-o mais fundo em sua própria jornada de cura.
Nenhuma delas é "melhor" do que a outra - são duas portas únicas para a mesma casa espiritual.
No Retiro Maravilha, honramos ambas as tradições, oferecendo cerimônias enraizadas na sabedoria indígena brasileira e guiadas por facilitadores experientes. Se você se sentir chamado a experimentar o poder da ayahuasca aqui no Brasil - sob a lua cheia, à beira do oceano, cercado pela floresta - nossas portas estão abertas.